O futurista e estrategista digital Pedro Cortella iniciou sua palestra no MMA Impact Brasil 2025 a partir de uma reflexão: e se a constante transformação do mercado, em vez de ameaça, fosse uma oportunidade? “Eu consegui me tornar um apaixonado pela mudança e também quero que vocês sejam apaixonados pela mudança”, disse ao público, ao defender que é possível transformar o desconforto com a velocidade das novidades em diferencial competitivo – e o principal caminho é a arte.
Cortella propôs um olhar mais atento para o excesso de controle e performance que hoje moldam as estratégias digitais. “Ficamos baseados em resultados, em performance, esquecemos da arte”, afirmou. Ele contou que também é do marketing, também vive da economia da atenção, mas acredita que é preciso escapar da lógica do consenso algorítmico. “O growth, a planilha, a entrega, o Zuckerberg vai conseguir entregar. Aposta na arte”, reforçou.
Com humor e referências da cultura pop, Cortella refletiu sobre a velocidade das transformações e o impacto emocional que elas causam. “Campanhas nostálgicas dos anos 90, por que elas nos tocam? Porque elas nos lembram de um tempo em que as coisas faziam sentido”, disse.
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Para ilustrar o descompasso entre o cérebro humano e as tecnologias digitais, ele citou o entomólogo Edward O. Wilson: “O verdadeiro problema da humanidade é que nós temos um cérebro paleolítico, estamos em um mundo com instituições medievais (como o Estado), não estão preparadas para o mundo da tecnologia divina — não porque vem de Deus, mas porque nós não sabemos bem como funciona”.
Com passagens pela Band e SporTV e uma carreira que começou com o sonho de trabalhar em jornalismo nos anos 90, Cortella relembrou sua própria trajetória e as viradas provocadas pela tecnologia. “Em 2011, a gente chamava o celular de ‘segunda tela’. Em meados da década passada, aconteceu a inversão: a TV pode estar até ligada, mas sua atenção está aqui no celular.”
A percepção de que o jornalismo tradicional já não entregava mais o impacto desejado veio com força. “Em 2011, eu cobria o treino do Corinthians, chegava na padaria e o cara tinha visto. Em 2016, o impacto que eu tinha nas pessoas não estava indo da forma como me dava propósito. Eu só tinha resultado quando pegava o link do G1 e publicava nas minhas redes sociais — isso abriu um ‘buraco’ na minha cabeça.” Ao ser demitido em 2017, sentiu alívio: “Às vezes, você fica no emprego pelo olhar dos outros, mas seu coração não está mais lá”.
Hoje, se define como ativista da inteligência orgânica. “A casca da bolha está ficando cada vez mais grossa”, observou, ao alertar para a superficialidade dos debates e o excesso de ruído nas redes. “A maioria dos conteúdos que circulam hoje com a voz do Cortella nunca saíram da boca dele”, comentou, referindo-se ao pai, o filósofo Mario Sergio Cortella.
No encerramento, reforçou o papel do futurismo como ferramenta estratégica — ainda que muitas vezes mal compreendida. “O analfabeto do século XXI não será aquele que não consegue descrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender — que é a parte mais importante do nosso trabalho — e reaprender.” Para Cortella, seu trabalho como futurista não é prever o futuro, mas provocar novas perguntas, gerar desconforto e, principalmente, oferecer insights que ajudem profissionais e empresas a enxergar além do presente. “A gente melhora nossas características quando a gente abre o repertório.”