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“IA será uma revolução maior que a internet”, diz Edu Vieira, do Softbank

Fundado pelo japonês Masayoshi Son, o Softbank hoje é um conglomerado que detém grandes fundos de investimento de tecnologia, com cerca de US$ 150 bilhões investidos em 470 empresas no mundo todo. Só na América Latina, foram colocados US$ 8 bilhões desde 2019, quando a operação chegou por aqui. Nesta entrevista, Eduardo Vieira, Sócio Líder de Marketing, Comunicação e Assuntos Corporativos do Softbank, conta quais critérios levam em conta para escolher as empresas que recebem os recursos e mostra sua visão sobre a inteligência artificial. Confira:

MARKETING FUTURE TODAY – Como é a presença do Softbank no mundo?
EDUARDO VIEIRA – Softbank é um conglomerado japonês, que tem várias linhas de negócio. A empresa nasceu no começo dos anos 80, fundada pelo japonês Masayoshi Son, e começou no business de internet, quando a internet estava surgindo. Tem esse nome, Softbank, porque ele achava que ele ia ser um broker para empresas de software, mas logo ele se tornou um investidor e um comprador de empresas de internet. Ele foi o primeiro a representar o Yahoo fora dos Estados Unidos. Depois, ele comprou uma feira de tecnologia que se chamava Condex, muito famosa na época; uma editora de publicações de tecnologia chamada Ziff-Davis; e uma empresa de telecomunicações. Ele acabou crescendo assim. Hoje, no Japão, o Softbank Corp tem serviços de provedor de internet, provedor de telecomunicações e empresas de energia e, fora do Japão, é o SoftBank Group, que tem 2 grandes operações: uma de telecomunicações, dona da T-Mobile e da Deutsche Telekom, e uma dona dos maiores fundos de investimento de tecnologia do mundo. São mais ou menos US$ 150 bilhões em 470 empresas no mundo todo, com investimentos históricos em empresas como Alibaba, Uber, DiDi, Nvidia, Arm, ByteDance e OpenAI.

MFT – Quando começaram os investimentos na América Latina?
EV – Em 2019, o SoftBank decidiu investir na América Latina. Então, pegou uma parcela dos fundos de tecnologia e alocou aqui. A gente colocou US$ 8 bilhões desde então. Isso é, de longe, o maior fundo de investimento de tech aqui. No nosso portfólio, a gente tem empresas como Nubank, Inter, Rappi, Quinto Andar, MadeiraMadeira, Wellhub (antigo Gympass), Loft, Log, Kavak, Creditas e Asaas. Hoje no Brasil e na América Latina, a gente tem 76 empresas no portfólio. Eu estou no Softbank já há 3,5 anos. Eu vim para liderar a área de Marketing e Comunicação e, depois, eu herdei a área de Assuntos Corporativos também. Meu trabalho tem 2 vertentes: sou o CMO/CCO do grupo para a América Latina, cuidando da nossa marca, e a gente é meio que um Conselho das empresas do portfólio que precisam de apoio em marca, reputação e performance.

MFT – Então, não é apenas investimento em dinheiro?
EV – É um aporte operacional e estratégico. Tem esse lado que, dentro do fundo, é chamado de operating group, que vai muito além do dinheiro realmente. Ajuda com contato, com indicação de fornecedor, com uma série de fatores aí.

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MFT – Como é feita essa escolha de quais são essas empresas que vão ser parte do investimento?
EV – Tem critérios muito objetivos. Nós investimos só nas empresas que a gente chama de late stage, ou seja, são empresas que já provaram um pouco o seu ponto e estão em uma fase que precisam de investimento para realmente crescer muito. Normalmente, uma empresa quando ela opta por ter um financiamento de Venture Capital, que é a área que a gente atua, ela parte de um investimento anjo, depois ela vai para um seed ou um preseed, que é um dinheiro um pouco maior do que o do anjo, então vai para uma série A, série B, série C e assim em diante. O nosso ponto de entrada é final da série B ou série C. A empresa já está consolidada. Esse vai ser o primeiro corte. O segundo corte é que a empresa precisa ter uso intensivo de tecnologia. A tecnologia tem que estar no core. Sobretudo na América Latina, que tem áreas que precisam ser muito transformadas por tecnologia, a gente busca grandes teses de empresas que querem resolver problemas graves e se tornarem globais. Um Rappi, querendo resolver entrega. Um Nubank, que disruptou o sistema bancário. Um Quinto Andar, que fez a discussão no mercado real state… O terceiro critério, é a empresa ter founders brilhantes, um crivo muito grande na visão do fundador. O outro critério, que não é mandatório, mas desejável, é utilização de inteligência artificial. É algo que a gente tem olhado desde o começo porque a gente acha que vai ser uma revolução tão grande quanto a internet foi.

MFT – Como que você vê a inteligência artificial? Já não se pode nem mais chamá-la de tendência..
EV – Eu acho que a gente está no momento da IA que é como se a gente estivesse discutindo, na pré-internet, o impacto que a BBS iria ter na tecnologia de comunicação. Eu tive o privilégio de ser um dos pioneiros da internet, faço esse acompanhamento desde 1996. O que eu via muito era uma discussão parecida com o que a gente tem hoje: ‘a internet está surgindo’, ‘vai ser um negócio transformacional’, ‘vai mudar a nossa vida’, ‘ah, mas ainda não tem banda larga’… A gente discutia ali, em 1996, coisas sobre o futuro da internet, que, depois de quase 30 anos, olha no que se transformou. Eu acho que, com inteligência artificial, a gente está em um momento parecido. Todo mundo já está usando, mas a gente só está arranhando a superfície do que vai ser. Para mim, vai ser uma transformação, uma revolução bem maior do que foi a internet. Obviamente ainda tem uma certa construção de mercado, mas a gente está falando de um negócio que, tem 3 anos de vida, no máximo, no mainstream.

MFT – Quanto tempo você acha que vai levar para a IA se popularizar assim como a internet está hoje?
EV – Eu acho que daqui 10 anos, no máximo, essa nossa conversa já vai estar em outro patamar. Para usar uma frase que o professor Silvio Meira falou outro dia em um evento: “a gente superestima o que vai acontecer amanhã e subestima o que vai acontecer em 10 anos”. Eu acho que o negócio vai virar de uma maneira bem mais acelerada.

MFT – No Brasil e na América Latina, as pessoas estão se preparando ou ainda estão achando que é só um hype?
EV – Eu acho que, apesar de a América Latina ter uma adoção grande de tecnologia e de a gente ser apaixonado por isso e ser heavy users, a gente está em um momento diferente. Enquanto, no Vale do Silício, as pessoas pensam em como construir o futuro, a gente, na América Latina, ainda está pavimentando o caminho para chegar ao futuro que já está sendo vivido em outros lugares. Aqui a característica vai ser um pouco diferente da lá de fora. Lá fora, você já tem a fundação formada, a infraestrutura formada e o layer de alicerce já formado. Isso tudo está na mão da Big Tech e não dá para competir porque ela já tem um bolso muito maior, muito mais experiência, muito mais recurso… O que vai acontecer, para mim, agora, é que tudo vai surgir na camada de aplicação. Na aplicação, eu acho que a América Latina está em igualdade de condições com os outros lugares do mundo, se olhar para isso. Quanto mais as empresas e as pessoas usarem e embarcarem nessa história e arriscarem, acho que a coisa vai deslanchar. E a boa notícia é que, diferentemente do que aconteceu na internet lá atrás, não tinha dinheiro de capital de risco disponível. Hoje em dia tem capital de sobra. Assim como o Softbank, tem vários fundos sérios que estão no mercado com capital, com operações aqui, olhando para América Latina, prestando muita atenção. Basta, como se fosse fácil (ri), ter uma boa ideia. Tem uma possibilidade de ter um ciclo virtuoso muito maior do que a gente teve na época da internet e mais maduro.

MFT – Essas tecnologias vão ajudar a diminuir as diferenças que já existem na América Latina ou esses gaps vão até aumentar?
EV – Eu acho que vai diminuir, está diminuindo. Você pega, por exemplo, o desafio da bancarização. O que o Nubank fez? O desafio de democratização de e-commerce, de uma série de coisas, de maturidade de mercado financeiro, acho que tem um monte de coisa para acontecer. Tem segmentos, por exemplo, que são históricos em termos de desafios aqui, que têm oportunidades que são bolas que caem na pequena área sem goleiro. Por exemplo, Health Tech: alguém precisa resolver a situação de plano de saúde, de saúde em geral, do mercado de saúde. Os investidores estão com o olho brilhando para essas coisas. A parte de Educação, do Transporte… Tem tantas possibilidades transformacionais aqui que, sim, o uso da tecnologia vai ajudar a diminuir os gaps.

MFT – Como é feita a comunicação do Softbank?
EV – A gente é essencialmente B2B. O meu sucesso significa mapear primeiro as empresas que a gente deveria investir antes de todo mundo. Eu brinco que é ajudar a descobrir o Messi quando ele tinha 8 anos de idade. E, de alguma maneira, consolidar a nossa imagem como referência nesses grandes trends. Softbank, historicamente, sempre foi uma empresa que tem trends seculares. Primeira empresa a investir em software, em banda larga, em mobile, em aplicações, em e-commerce… Tem um investimento clássico nosso: foi feito um cheque de US$ 20 milhões para o Alibaba quando ele não era nada e que se transformaram em, praticamente, mais de US$ 100 bilhões, quando a empresa abriu capital, e a gente não vendeu. Nossa estratégia é estar ativos no ecossistema de Venture Capital de investimento na região. Por isso, a gente investe bastante em eventos, em patrocínios, em troca de conhecimento, em utilizar a base das nossas empresas investidas, fazendo uma comunicação bem direcionada e ajudando o time de investimentos no sourcing, que é essa história de buscar os próximos ativos. Inclusive, faz parte disso esse projeto que a gente tem aqui com a MMA Latam, que é justamente buscar startups que, de alguma maneira, estão tentando revolucionar ou oferecer novos serviços em Adtechs e Martechs. E também dar visibilidade a esses trends. A gente fala internamente de inteligência artificial há pelo menos uma década, 15 anos, e os investimentos, obviamente, eles têm suas curvas, têm seus momentos, mas das maiores aberturas de capital das empresas de tecnologia, o Softbank participou das principais. A própria abertura de capital do Softbank foi muito emblemática e está entre as cinco maiores do mundo. A gente sempre tenta estar um pouco à frente. O mercado de investimento em Venture Capital é muito sui-generis porque não é um mercado que investe muito em marketing. É um negócio que é muito voltado ao business, é bem B2B mesmo. O desafio da área de Marketing é dar esse suporte porque o negócio é muito atrelado a resultado. É um olho na bola e outro na torcida.

MFT – O que mais você tem observado no mercado que valha a pena citar?
EV – Há uma discussão que é muito urgente no mercado: qual o papel do Marketing nas startups? O founder normalmente é um cara brilhante em produto, em tecnologia ou em negócios e, muitas vezes, ele esquece que para a empresa dele se perpetuar, ele precisa ter uma cultura sólida, uma marca forte, uma boa reputação. E o que eu tenho visto em muitas empresas, até pela pressão de resultado e tal, sobretudo em estágios iniciais, é um investimento muito focado só em performance. Eu acho que esse é um erro estratégico. Hoje em dia, no mundo do jeito que está, ao fazer performance, querendo ou não, você já está construindo a sua marca porque, em primeiro lugar, o consumidor não faz essa diferença e, em segundo lugar, ele vai ser impactado de algum jeito. Então precisa ter um equilíbrio. O Mmarketing do futuro é muito mais equilibrado entre as duas áreas e, nas empresas que são realmente disruptivas, ele é cada vez mais integrado. Não tem a diferença de silos, entre marca e performance, entre branding e reputação.

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