A presença da mulher e a diferença de tratamento entre os gêneros no universo dos games foi o tema de abertura da primeira edição do Reload, que aconteceu em São Paulo, no dia 15 de agosto. Marina Leite, diretora de e-sports da Liberty, citou que, certa vez, uma de suas atletas de e-sport precisou faltar ao treino para cuidar do irmão mais novo porque os pais não estavam em casa. “A gente tem jogadores que têm irmãos mais novos e eles não têm esse peso. É um caso isolado, mas é o retrato da sociedade. A mulher é criada para a vida privada e o homem para a vida pública”, fala.
Branca Galdino, fundadora da N9ne e mediadora do painel, conta que a presença feminina em eventos de e-sports ainda não é comum, mas há alguns anos era ainda pior. “O jogador só conhecia a cozinheira, a faxineira e, depois, a psicóloga. Muitas vezes, eu chegava no estúdio para fazer a cobertura e me perguntavam ‘você é mãe de fulano?’”, diz.
Para Marina, a única maneira de aumentar a presença das mulheres no e-sport é apoiando o esporte eletrônico delas. “O incentivo é a porta de entrada para que a gente consiga ter mais visibilidade. Não tem como ter algo sem investimento. Organizações não vão montar equipes se não têm investimento. Tem que ser um trabalho em conjunto”, afirma a executiva, que começou meio por acaso na área.
Ela diz que sempre sonhou em fazer a diferença, mas não pensava em trabalhar com games. “Sempre gostei muito de resolver e, como filha do meio, eu tinha que lutar pelo meu espaço. Eu era advogada, atuava no mercado imobiliário, até minha filha nascer. Tive um burnout, precisei parar de trabalhar, só que eu não conseguia também ficar bem estando em casa”, conta.
Por sua constituição familiar, como explica, ela foi parar na ProGaming, uma loja de periféricos gamers, aqueles acessórios necessários para turbinar o computador de quem joga, como fones de ouvido, processadores e mouses, por exemplo. Marina acabou se envolvendo no braço de marketing da loja, que era focado em games, e foi assim que entrou nesse universo do e-sport.
Diferentemente do que acontece em muitas modalidades, nos jogos eletrônicos as equipes podem ser mistas, com atletas homens e mulheres, já que não há justificativa para separar os gêneros. Mesmo assim, as mulheres seguem sofrendo assédio e preconceito.
“A gente adora ter espaço para falar como mulher e, hoje em dia, a gente aproveita esses espaços usando esse argumento, mas o grande sonho, o que a gente briga é por ser reconhecida pelo trabalho da gente, sem se preocupar se é homem ou mulher”, finaliza Branca.