Ao perceber que sua dor tinha se tornado “produto do entretenimento do afeto das pessoas não racistas”, o jornalista, apresentador e ativista social Manoel Soares viu a necessidade de também dar reconhecimento aos pontos positivos de sua vida para honrar todo o esforço de sua mãe, segundo contou no encerramento do MMA Impact Brasil, no dia 12 de abril, na Bienal, em São Paulo (SP).
“Por que eu precisava retroalimentar os momentos tristes da minha vida para me definir enquanto ser humano? Obviamente, enquanto comunicador, eu sempre fui comprometido com a denúncia social, mas comecei a ver que a minha denúncia estava me reduzindo a um ser sofredor, ao ser que só chora. E eu sorri muito na minha vida: eu soltei pipa, eu brinquei de carrinho de rolimã, eu beijei na boca, eu passeei, eu me diverti. Quando essas felicidades passaram a ser também pontos do filme da minha vida, eu comecei a entregar para as pessoas também um sorriso. Eu vi que quando precisasse visitar meu lugar de dor, eu visitaria e falaria com toda a legitimidade, mas me reduzir a uma pessoa sofredora é me desrespeitar”, disse o apresentador.
Para Soares, seria um desrespeito também com sua mãe, que fez de tudo para que ele tivesse uma ótima infância, não reconhecer esses acontecimentos positivos. O apresentador falou que quando passou a destacar também os pontos positivos de sua trajetória a vida mudou. “Nós conseguimos fazer a virada quando nós passamos a valorizar mais os sorrisos que tivemos na infância do que as lágrimas nós derramamos. Isso está além da questão racial. Antes de ser um homem negro, eu sou um homem e antes de ser um homem eu sou um ser humano. As minhas experiências, os meus saberes estão disponíveis a todas as pessoas, independentemente da cor da sua pele e da sua origem”, afirmou.
É esse profissional equilibrado que ele quer mostrar na TV aberta. “Hoje o Manoel que entrego para vocês na televisão é o Manoel que aborda a seriedade da vida, mas que rebola até o chão também porque isso faz parte da minha vida”, disse.
Quem fez a mediação do painel “Construindo pontes através da comunicação sem deixar de dar a real” foi a estilista Isaac Silva. Soares agradeceu e elogiou o trabalho da profissional ao dividir o palco com ela. “O que você faz com os tecidos não é roupa. Você faz uma segunda pele para as pessoas que, muitas vezes, tiveram sua primeira pele menosprezada”, afirmou.
O apresentador também falou sobre a relação das marcas com público negro. Para ele, é preciso naturalizar o uso de produtos de luxo pelos negros. “Hoje algumas das marcas não são consumidas por 54% da população e não é porque o público não se conecta, não precisa ou não tenha dinheiro. É porque culturalmente alguém disse a elas que consumir essa marca não estava dentro do repertório de atitudes delas”, falou.
Soares contou que para ele se aproximar de uma marca, ela precisa ser responsável, respeitar seu axé e permitir que ele participe da criação da comunicação. “Eu raramente consigo trabalhar com campanhas prontas. Eu quero participar do processo de construção da mensagem. A base do que eu sou é a verdade”, finalizou.