O CEO da Nestlé, Marcelo Melchior, falou sobre a inovação no DNA da empresa centenária e o quanto a organização é pautada pelas necessidades dos consumidores, durante o MMA Impact Brasil. Com mediação de Fabiano Lobo, Managing Director Latam do MMA, o painel “Nestlé: Integração sob o Olhar Da Inovação” ainda abordou as mudanças que a pandemia trouxe ao negócio. Confira os melhores momentos da apresentação.
Marketing Future Today – Esses últimos dois anos realmente foram importantes para essa tal transformação digital ou não que aconteceu dentro das empresas. Conta sobre esse alinhamento do C-Level dentro da Nestlé? Como a transformação aconteceu?
Marcelo Melchior – Eu gosto mais quando você fala em transformação e ponto final porque o nome de transformação digital remete muito à tecnologia e a maioria da transformação nós temos que fazer na cabeça de todos nós. A tecnologia é só o enabler das coisas que vão acontecer. Nós temos todas as iniciativas: chatbots, melhorias que estamos fazendo, porém nada disso pode funcionar se as pessoas não adotam. O que nós temos feito é meio Montessori [método pedagógico baseado na autonomia do aprendiz] para não frear ninguém, porque quando você coloca ordem demais, você começa a colocar travas no sistema. Tem um montão de ineficiências porque várias áreas fazem a mesma coisa, mas nós temos que ver quais são as iniciativas que funcionam e usar a tecnologia da melhor forma. Hoje em dia você faz a pesquisa e tem o feedback imediato. Qual o sabor do Kit Kat que a gente faz? Sai imediatamente. Vamos abrir uma loja de não-sei-o-quê. O que a gente faz no e-commerce? Mas isso tem que estar muito instalado na organização para que as pessoas possam fazer. Sempre tem aqueles cínicos que acham que é um montão de brincadeirinha porque tem de vender no Atacadão e tudo isso. Mas nós estamos fazendo um montão de coisas ao mesmo tempo. Isso até chama atenção por ser uma empresa centenária que está jogando milhares de coisas ao mesmo tempo.
MFT – Uma empresa centenária experimentando muito, isso deve gerar um monte de insights. Eu queria ouvir um pouquinho de você sobre esses aprendizados da Nestlé nesses últimos anos.
Marcelo – A coisa que mais foi evolução na Nestlé na última década foi entender que nós não temos todas as respostas. É uma humildade que entrou dentro da organização e abriu os desafios para todos. Fazemos desafios de inovação, de marcas, e tem soluções que, às vezes, vêm de outros países, às vezes, vêm de estudantes. Sou muito orgulhoso de que a inovação esteja desde o princípio da organização. Quando a Nestlé foi criada, em 1866, foi porque havia uma mortalidade infantil muito grande na Europa e foi lançado o que é hoje a Farinha Láctea, um produto que se você desse para seu bebê, ele não ia morrer. E quando nós chegamos no Brasil, em 1921, foi para trazer o Leite Moça, que na época não era o ingrediente culinário para fazer pudim de leite, mas era para fazer leite. Simplesmente você colocava um pouquinho de Leite Moça no copo, 4 partes de água e tinha seu copo de leite, Na época, não tinha geladeira, nem nada disso. Era uma grandíssima inovação que é parte do DNA da organização. E isso, simplesmente, traz uma forma de pensar “como é que a gente usa a tecnologia de hoje em dia para isso?”.
MFT – Essa jornada do consumidor mudou completamente nesses últimos dois anos e eu queria entender como é que as marcas estão encarando essa transformação do consumidor?
Marcelo – Nós vimos várias tendências se acelerarem. Primeiro, aquele medo que nós tínhamos da cozinha foi embora. As pessoas estavam presas dentro de casa e começaram a ver o cozinhar não só como uma atividade funcional: estou com fome, vou comer, mas também lúdica: vou fazer um bolo com meus filhos. É um momento bastante legal e nós somos muito bons em termos culinários. Depois, outra tendência que acelerou muito foi o tema da nutrição. Por muito tempo, durante a pandemia, a única forma de se proteger do vírus era ficar com meu sistema imune 100%. Vou tomar um complexo vitamínico, comer bem, fazer mais exercícios etc.. Outra coisa é que perdemos o medo do e-commerce. E também surgiu esse mundo meio híbrido, com reuniões on-line etc.. Nós vimos tudo isso e pensamos: como é que nós mudamos para levar satisfação a nossos consumidores? Nós costumamos dizer que é irrelevante o fato que a Nestlé tenha 100 anos ou 6 meses. O que é relevante é que nós mantenhamos o vínculo com os nossos consumidores e tenhamos essa interação, seja para solucionar temas do consumidor ou para melhorar a qualidade de vida dele. Para isso temos que constantemente ir mudando.
MFT – Vocês fizeram uma parceria com Gerando Falcões. Como é você vê essa oportunidade?
Marcelo – Eu encontrei o Edu Lyra, da Gerando Falcões, pela primeira vez quando voltei ao Brasil, há uns 4 anos, e eu disse: não vamos ficar falando de filantropia porque não funciona a longo prazo. Na primeira vez que você tiver um ano difícil, você corta. Como é que nós podemos fazer alguma coisa que seja ganha-ganha, fixo no negócio, sustentável do ponto de vista econômico? Na Nestlé, temos o conceito “criação de valor compartilhado”. Como é que nós criamos valor para você e que seja também bom para mim? Isso é importante porque faz um elo de uma corrente. Então fomos buscar coisas para trabalhar a longo prazo. Por exemplo, ele está nos ajudando na seleção de pessoas. Nós queremos ser o espelho da sociedade brasileira. A diversidade é muito importante para nossa sobrevivência. Não podemos saber das pessoas, do que acontece lá fora, só através de pesquisas. Temos que viver e, para isso, temos de mudar os critérios de seleção. Também nós criamos uma barra social, que é uma barra de cereais com todo o lucro da venda revertido para a Gerando Falcões. Quanto mais vender, melhor para eles. Estamos aprendendo. Desenvolvemos o produto junto com a equipe da Geraldo Falcões, desde a embalagem, e usamos nosso sistema de distribuição. No futuro, imaginamos que, como hoje tem a área de orgânicos, de saudáveis, de marcas próprias no supermercado, vamos ter a área de produtos sociais. É uma forma de compartilhar riqueza. O Edu sempre diz que “o Brasil não é um país pobre, é um país injusto”, e nós temos a oportunidade de eliminar essa injustiça.
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