A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) adiou para esta quinta-feira, 22, a votação do Projeto de Lei 504/2020. A pauta deveria ser votada na última terça-feira, 20, mas não ocorreu por falta de quórum. O PL de autoria da deputada estadual Marta Costa, do PSD, tem como premissa “proibir publicidade que faça qualquer tipo de alusão a preferências sexuais e outros movimentos relacionados à diversidade sexual.”
A deputada Erica Malunguinho, do PSOL, uma das principais vozes contra o projeto votou contra o texto e afirmou que é um caso explicito de LGBTfobia. “Eu desacreditei quando eu li isso”, escreveu a deputada. Outras entidades também se manifestaram contra. Entre elas, a Associação Brasileira de Agências de Publicidade (Abap) que repudiou a proposta “pelo qual pretende se impor discriminação à liberdade de expressão comercial e ao direito de orientação sexual.” Sandra Martinelli, presidente da Associação Brasileira de Anunciantes (ABA), também repudiou o PL.
A MMA Latam também se posicionou contra qualquer projeto que discrimine, segregue ou gere preconceito. Marcas e agências fizeram o mesmo em ações encabeçadas por lideranças de marketing. Daniela Cachic, CMO da PepsiCo, empresa dona da marca Doritos, lembrou, em seu Linkedin, que 70% da população brasileira não se sente representada em campanhas publicitárias segundo a Kantar e que, nos últimos anos, marcas e empresas se empenharam para que suas campanhas sejam um reflexo da sociedade.“Doritos acredita em uma sociedade onde não existe espaço para discriminação. Por isso, somos contra o PL504 que será votada em São Paulo nesta quinta-feira”, escreveu.
Diego Dumont, gerente regional de marca e conteúdo da Absolut, pontuou que, “mesmo que pareça não fazer sentido defende o óbvio em 2021, é necessário fazê-lo”. “Não podemos ficar em silêncio e aceitar regredir em tantas pautas avançadas”, escreveu. Fernanda Romano, CMO da Alpargatas, dona da Havaianas, lembrou da Declaração Universal dos Direitos Humanos para ressaltar o direito de os “seres humanos nascerem livres e iguais”. “Por que existir ou amar o outro é danoso? Amar a si mesmo, se aceitar, se celebrar, ser celebrado, mesmo quando muitos não te aceitam, não te celebram, é danoso?”, escreveu.
Sarah Buchwitz, CMO da Mastercard, escreveu que a empresa tem o compromisso de contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa para todos. “Isso inclui nosso apoio à comunidade LGBTQIA+, por meio de condições, oportunidades e direitos iguais”, escreveu. Beatriz Botessi, head de marketing do Instagram relembrou a campanha recente do Facebook em prol do orgulho. “É obrigação da publicidade, continuar lutando para que a população brasileira se sinta representada nela. É dever das marcas e publicitários lutarem por isso. LGBTQI+fobia tem que ser combatida, em todas as esferas, e a comunicação sempre será uma delas. A votação de um projeto de lei, que proíbe a divulgação de campanhas publicitárias que apresentam a diversidade é um grande retrocesso”, escreveu Beatriz.
João Victor Guedes dos Santos, diretor de marketing de Johnnie Walker, também postou reforçando que a marca acredita no progresso. “Acredita também que os próximos 200 anos dependem dos passos de agora e por isso, não acredita no PL504, que será votado em São Paulo nesta quinta feira.” Pedro Abbondanza, diretor de marketing da Coca-Cola, destacou: “estamos em 2021, e tem muita coisa acontecendo no mundo que da nó na garganta. Mas não tem espaço para retrocesso. Não tem. Estar #AbertosProMelhor significa defender que a existência LGBTQIA+ não é influência inadequada”
Marcas ativistas e o poder do posicionamento
No início de abril, o Marketing Future Today publicou uma pesquisa da CBA B+G, agência do grupo WPP especializada em branding, design, pesquisa e inovação, que mostrava o quanto os consumidores estão atentos ao posicionamento das marcas. O levantamento “Marcas Ativistas” mostra que causas e propósitos são elementos cruciais para a agenda de qualquer estratégia de marketing.
De acordo com Carolina Barruffini, diretora de branding da agência, as marcas não têm mais escolha: precisam se arriscar mais. “Sem dúvidas existem riscos no envolvimento de uma marca em causas relevantes para os indivíduos. Entretanto, muitos exemplos reais têm nos mostrado que agir ainda é melhor do que não se posicionar, mesmo que o impacto seja pequeno, e desde que a ação seja direcionada por verdade e transparência”, completa.
Em outra matéria publicada no Marketing Future Today, derivada do report de tendências Marketing Future Trends, o ativismo de marca também aparece como um dos principais elementos de marketing para 2021. “Frentes como políticas afirmativas de contratação e promoção de grupos minorizados, conteúdo e ativação de temas relacionados à diversidade, inclusão e pluralidade ganham destaque nessa discussão”, afirmou Marcio Parizotto, Diretor de Marketing do Bradesco.
Leia mais em:
– Quais os elementos que compõem uma marca ativista?
– ESG dá novas proporções ao ativismo de marca
A MMA Latam, por meio da plataforma Conectades, repudia qualquer forma de discriminação, segregação e preconceito.