Egressa da L’Oréal e Coca-Cola, Helena Bertho assume, a partir deste mês de novembro, como head global de D&I (diversidade e inclusão) do Nubank. Na nova missão, ela será responsável por desenvolver uma estratégia de inclusão alinhada com o atual momento da fintech que vive processo de expansão global e está às vésperas de sua abertura de capital. Ao Marketing Future Today, Helena, que em maio deste ano foi reconhecida pelo prêmio Sim à Igualdade Racial 2021, promovido pelo Instituto Identidades do Brasil, fala sobre os avanços, desafios e compartilha boas práticas de como estruturar um D&I.
Marketing Future Today – Dada sua experiência anterior em outras empresas, como evoluiu o papel da área de Diversidade & Inclusão?
Helena Bertho – Para mim, falar de D&I sempre foi sobre inovação, relevância e impacto. Essa pauta não é uma novidade quando falamos de empresas fora do Brasil, mas por aqui, o debate se colocou de forma mais ampla e acelerada nos últimos anos. Inicialmente pautado sobre “mulheres na liderança” em seguida sobre direitos da população LGBTQIA+ e nos últimos anos sobre equidade racial. O papel da área tem evoluído junto com a sociedade que pauta cada vez mais a urgência das mudanças. Era (e ainda é) comum, vermos alguns indivíduos de forma voluntária levantando a agenda, depois observamos o crescimento dos grupos de afinidade, que passaram a assumir responsabilidades sobre os temas e, por fim, a estruturação de algumas áreas. Percebo uma evolução, ainda lenta, mas significativa, à medida que o escopo desta área vai sendo ampliado e, em organizações mais contemporâneas ganha posição cada vez mais estratégica e global com impacto na companhia e em toda a cadeia de valor, passando por inovação, marketing, pessoas e impacto social.
MFT – Para quem ainda está estruturando ou redefinindo suas áreas de D&I o que você diria sobre o que fazer e o que não fazer?
Helena – Primeiro: saber que D&I é uma jornada e que começa com um primeiro passo. Mas, considerando que estamos em 2021 esses passos precisam ser mais rápidos. Vivemos a era da hiperconectividade, das tecnologias exponenciais, hyper growth as mudanças precisam ser aceleradas; marcas que não compreenderem isso ficarão para trás. É mandatório trazer especialistas, consultores para esta construção, e também ouvir as pessoas dos grupos de afinidade: mulheres, negros, PCDs, LGBTQIA+, seniors. Como publicitária, eu digo e repito sempre: não existe mais comunicar para, existe comunicar com. Então, para construir uma área de D&I construa a partir das pessoas, de suas demandas. Ouçam os grupos de afinidade e deem protagonismo, mas não deleguem a eles o papel de solucionar questões que demandam tempo, time, investimento e especialização.
MFT – Considerando a quantidade de matérias, eventos e discussões relacionados ao tema a percepção é de que a pauta de diversidade e inclusão no mundo corporativo avançou, indo além da superfície, ela avançou? Quais os desafios que temos pela frente?
Helena – Sim ela tem avançado. As matérias, eventos e discussões mostram que estamos falando mais sobre a questão. Isso é um avanço se considerarmos que nem falávamos sobre isso já que o mercado sequer reconhecia que existia um problema. Reconhecer é um passo importante. Debater, trazer especialistas, organizar fóruns é relevante? Também. Porém, ainda precisamos aterrissar o que falamos. Olhando os dados: o ponteiro moveu? Estamos contratando mais? Provendo uma experiência em que as pessoas se sintam pertencentes e valorizadas por suas singularidades? Turnover como está? Estamos mais criativos, mais inovadores, desafiando o status quo à medida em que as pessoas têm espaço para colocarem na mesa suas contribuições?
É mandatório trazer especialistas, consultores para esta construção, e também ouvir as pessoas dos grupos de afinidade: mulheres, negros, PCDs, LGBTQIA+, seniors
MFT – Você sempre trouxe essa pauta muito forte na sua trajetória, o que você diria para as novas gerações de negros e negras que chegam ao mercado o que eles vão encontrar e como eles devem se preparar?
Helena – Hoje, eu caminho sobre um chão que mulheres e homens que vieram antes de mim, pavimentaram pra eu andar e é exatamente isso que eu faço por onde passo: construir pontes, abrir caminhos e dizer pra esta nova geração de líderes que elas e eles irão ainda mais longe. Sem nunca esquecerem que nossas conquistas e avanços sempre foram coletivos e, este futuro que tanto almejamos só será possível desta forma. Ser leal aos seus valores é fundamental. Colocar energia no que realmente importa. Ser generoso e ter empatia nos ajuda a não perdemos nossa humanidade. O mundo está cheio de gente boa em números, boa de escrita, boa tecnicamente, mas que sabem muito pouco de “gente”. E no final do dia, é tudo sobre pessoas. Falamos tanto de comunicação enquanto motor de transformação social a partir da construção de novas narrativas. Nada disso será possível sem pessoas.
No vídeo abaixo você pode assistir a participação de Helena no Innovate Brasil, em outubro, falando sobre influência: